o cheiro da chouriça assada... as mãos gordas e pesadas que a vão virando enquanto fecham os olhos num sinal de profundeza assustadora que o não é. Em tons de azul as duas jarras de sangria que já não são senão fruta tolhida pelo alcool doce... demasiado doce, como aquele que quis que ficasse na mão mas acabou perdido no meio dos pés sujos dos que se apressam para chegar a lado nenhum. "Quase sem cor... gasto da dor"... ouvem-se as músicas perto... mas estou longe, como nos filmes, em que passam as memórias atrás de nevoeiro. Porque já diz a sra que canta que "andamos sempre uma casa ao nosso lado". Porquê? Por covardia... porque é mais fácil baterem à porta e fingirmos não estarmos... tão mais fácil... knock knock!...truz...truz...truz... mas ninguém responde... e depois vamos embora, porque se não respondem é porque não estão e é por isso que aparecem velhinhas mortas há meses dentro de casa e ninguém quer saber... é como o Pedro e o lobo numa versão tão, mas tão liliputiana que chega a ser dificil perceber. O nevoeiro... esse abre a porta mas não aparece nenhum D.Sebastião... os mitos valem o que valem e a esperança fica em quem a tem. A chuva começa a cair e entra a nostalgia... desce os degraus devagarinho como quem não quer a coisa instala-se no colinho dos menos atentos. Correm quase lágrimas... não o são... porque até os directos são gravados e ensaiados e afinal, o rolar da lagrimazinha fica sempre bem a quem quer estar no centro das câmaras. A espontaneidade é coisa que não se usa. Canta.se.... ouvem.se risos... gente falsa, gente morta, gente nada... "que carinha é essa?", "parece que nem estás cá"... deve ser isso... às vezes não se quer estar... os degraus são para quem os quer subir. É tudo como se não fosse, e não é... porque não se sente. Fabrica-se, mecaniza-se, serializa-se e voltamos a 1984 e somos todos robots. "Vou chegar tarde. Bjinhos", "Arranjas-me os apontamentos? Bj", "Vamos para os copos hoje? bjocas"...mandam.se milhões de beijos por sms, querem ser dados? Os caracteres ainda chegam e fica sempre bem, sempre abreviados, quase nunca sentidos, e muitas vezes nascidos do frenético percorrer das teclas sem as olhar sequer. No fim de contas... é tudo virtual... e quando se sobem virtualmente os degraus e a realidade aperta... não há mais nada a fazer senão descer.
Sobram os gigantes... que sobem os degraus um a um esperando sempre ficar um abaixo de qualquer coisa... há tanto ainda por aprender... tanto para sentir... tanto para ser... E olha.se para um girassol e ve-se o mundo a rodar, sempre... sem parar de girar. As tangerinas são o que queremos fazer delas.
Tangerinas... ou gomos de mundinhos que se completam para formar a esfera onde "andamos em linha recta".
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