segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Balada em Mim

Não conseguiste falar.
O medo a mágoa, o desapontamento,
Levaram-te para longe de ti.
Perdeste a noção do mundo que te cerca,
Porque te levaram acorrentada até ao abismo.
Abafaram-te os gritos com correntes de sangue.
E são agora pequenos os cadáveres que te habitam.
Dói? Bem sei...Os ferimentos saram,
Mas o tempo não é herói,
Não apaga as visões da memória.
E então, acordas um dia num quarto,
Vestido de negro, a cheirar a frio
E percebes que terás de aprender tudo de novo.
Aprender a dar, a estender a mão,
Rezando para que tudo corra bem,
E que um anjo mudo venha e te guie,A
té um qualquer céu de humanidade.
Assustam-te as ruínas de histórias,
Que falam de cemitérios de papel,
De voos de aves, que levam as vidas cansadas
Dispersas num canto de rouxinol.
A tua boca atrai a noite
E aí deixas de pensar.
Caminhas para o espelho
E o que vês?
Entre a nuvem de poeira e àgua,
O nome de um desconhecido.
Olhas o mundo
E apercebes-te que tudo escureceu,
Que o ar se tornou irrespirável,
Que choveu...
O tempo aqui já te esqueceu,
E os dias avançam lentamente,
Enquanto te sufoca a dor,
De te teres tornado um estranho
Entre os olhares dos outros.
Nenhum desejo, nenhum gesto, nenhum pensamento.
Suspendes o tempo e nenhuma acto se realiza.
De repente alguém grita o teu nome,
Mas como perdeste o mundo,
Esqueceste-te de quem és
E não respondes.
E um dia, quando já não consegues suportar,
Pensas que morreste.
Mas não são os mortos
Que se alimentam de quem vive.
São os vivos que escondem na memória
O peso dos mortos, que não esqueceram.
E por isso sabes agora que não morreste,
Apenas te desfizes-te,E ficaste sozinha,
A olhar a chuva bater no espelho,
Agora quebrado.
E choras quando te dás conta
Que a única pessoa que te ouve és tu.
Por isso escreves na segunda pessoa,S
abendo, que só tu serás leitor.
Porque no fundo é de ti que falas.
Ouves a chuva contar histórias...
Mas não chores mais!
A chuva limpa a morte dos dias...

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