domingo, 25 de novembro de 2007

Simples eco

Quatro mãos, folhas amontoadas e contas que eu nem sequer sei fazer. Pingam os dias, as folhas esvoaçam como se quissessem agarrar o outono e transformar a cidade em pequenos gritos alaranjados de chuva e tempestade.
Quase chove, mas sei que não vai. Há luzes por todo lado. Piscam, brilham... caem de aviões e todos parecem atarefados. Muita corrida para pouco sentir mas enfim...é sempre a mesma música, cansada, repetida, como aqueles anúncios da televisão que insisto em não ver. Uns tossem, outros espirram, mas é óbvio que as convulsões e as febres altas atacam os que não se protegem. Não porque não queiram, mas porque não percebem que são inuteis os OH OH OH´s, se quando se grita, só os ecos respondem.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Jogo

Quando foi que deixamos de respirar??
Quando foi que os tiros no escuro passaram a incertezas, que os factos passaram a dúvidas e ficou tudo enevoado.
E porque?
Porque não ha coragem ou entao nunca houve sentir, não houve lutar, houve medo de rir, e agora são tudo ecos, só cheiros, espaços, mortes, medos....

Já não quero labradores, desisti das lareiras e dos tanques nos montes... cansei.me das esperas, do ignorar, da troca de silencios, das margens... porque são sempre margens e estas são demasiado diferentes... porque custa partir... mas será que não custa ver? Não doi magoar? Não doi desfazer as mãos, mudar de passeio, pisar os sons que riam? Calar??? Não doi?

Ou então não desisti.... porque isto tudo parece.me surreal. Planos falhados, sonhos desfeitos em pedaços de papel e amontoados de livros que mais do que isso não são. Era tudo tão maior... era tudo tão leve... tudo tão branco... mas o medo faz.nos sós...e agora... o tempo já passou.

Está frio demais....


O JOGO

"Mais um dia em vão no jogo em que ninguém ganhou

Dá mais cartas, baixa a luz e vem esquecer o amor
És tu quem quer, sou eu quem não quer ver que tudo é tão maior aqui
Está frio demais para apostar em mim

Vê que a noite pode ser tão pouco como nós
Neste quarto o tempo é medo e o medo faz-nos sós
És tu quem quer mas eu só sei ver que o tempo já passou e eu fugi
Que aqui está frio demais para me sentir...
Mas queres ficar...


Tudo o que é meu é tudo o que eu não sei largar
Queres levar tudo o que é meu e tudo o que eu não sei largar...
Vem rasgar o escuro desta chuva que sujou
Vem que a água vai lavar o que me dói
Vem que nem o último a cair vai perder...

Tudo o que é meu é tudo o que eu não sei largar

Queres levar tudo o que é meu e tudo o que eu não sei largar...
Vem rasgar o escuro desta chuva que sujou
Vem que a água vai lavar o que me dói
Vem que nem o último a cair vai perder...
Não... Não vai perder... Não vai perder! "

Tiago Bettencourt

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

azul

Aqui sente.se o azul. Não sei se pelo aroma do mar, ou pelo comboio que o trouxe fresquinho ainda, como se tivesse acabado de ter sido pintado.
Não quero fugir, não quero que corras, só quero que o azul seja completo... sem nuvens, sem contornos.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Balada em Mim

Não conseguiste falar.
O medo a mágoa, o desapontamento,
Levaram-te para longe de ti.
Perdeste a noção do mundo que te cerca,
Porque te levaram acorrentada até ao abismo.
Abafaram-te os gritos com correntes de sangue.
E são agora pequenos os cadáveres que te habitam.
Dói? Bem sei...Os ferimentos saram,
Mas o tempo não é herói,
Não apaga as visões da memória.
E então, acordas um dia num quarto,
Vestido de negro, a cheirar a frio
E percebes que terás de aprender tudo de novo.
Aprender a dar, a estender a mão,
Rezando para que tudo corra bem,
E que um anjo mudo venha e te guie,A
té um qualquer céu de humanidade.
Assustam-te as ruínas de histórias,
Que falam de cemitérios de papel,
De voos de aves, que levam as vidas cansadas
Dispersas num canto de rouxinol.
A tua boca atrai a noite
E aí deixas de pensar.
Caminhas para o espelho
E o que vês?
Entre a nuvem de poeira e àgua,
O nome de um desconhecido.
Olhas o mundo
E apercebes-te que tudo escureceu,
Que o ar se tornou irrespirável,
Que choveu...
O tempo aqui já te esqueceu,
E os dias avançam lentamente,
Enquanto te sufoca a dor,
De te teres tornado um estranho
Entre os olhares dos outros.
Nenhum desejo, nenhum gesto, nenhum pensamento.
Suspendes o tempo e nenhuma acto se realiza.
De repente alguém grita o teu nome,
Mas como perdeste o mundo,
Esqueceste-te de quem és
E não respondes.
E um dia, quando já não consegues suportar,
Pensas que morreste.
Mas não são os mortos
Que se alimentam de quem vive.
São os vivos que escondem na memória
O peso dos mortos, que não esqueceram.
E por isso sabes agora que não morreste,
Apenas te desfizes-te,E ficaste sozinha,
A olhar a chuva bater no espelho,
Agora quebrado.
E choras quando te dás conta
Que a única pessoa que te ouve és tu.
Por isso escreves na segunda pessoa,S
abendo, que só tu serás leitor.
Porque no fundo é de ti que falas.
Ouves a chuva contar histórias...
Mas não chores mais!
A chuva limpa a morte dos dias...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Degraus

e depois há aquelas pessoas que sobem descem e sem saber muito bem onde estão tentam tocar o que já não têm. Acabam por tropeçar nos degraus, que nunca são do mesmo tamanho. Ora altos ora mais baixos, ora apenas pequenas saliencias que nos avisam que precisamos de qualquer afinação para que o motor não deixe de trabalhar. E depois temos as escadas em caracol... se demoram, mas normalmente levam sempre a um ou outro sotão fantástico, cheio de pó com um baú no canto, cheio de fantasias velhas que vestem ou despem as máscaras que alguns insistem em querer trazer consigo.

Eu cá conto os degraus... as primeiras vezes vou com muito cuidado, pé ante pé, para ver se não caio. Conto e a partir daí é tudo azul. Ou então não.

A matemática às vezes é complicada...